A gente cava mais fundo
E perde as garras dos dedos
Por medo do fim do túnel
Ficamos pelo meio
Sem luz não se vê aonde
Só se pode colocar o pé no freio
Afinal, o quê podemos atropelar dessa vez
Se somos nós que estamos no meio?
Não podemos nos atravessar
A rua é por demais estreita
Sem freios podemos nos esbarrar
E se houver tempestades, até escorregar
Fiquemos do outro lado da calçada
Opostos a que nos passa
Partidos ao meio
Até que se possa atravessar
Somos moucos pelo barulho dos outros
Não ouvimos avisos, não vemos perigos
Fingimos abrigo à beira do abismo
Que nos grita frouxo “venha me atravessar de novo”
Quem tira o pé do freio corre riscos
De se partir ao meio
No meio dessa rua que atravessa o peito
E deixa os riscos das garras dos dedos.
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