quinta-feira, agosto 27, 2009

Juízo de Valor

É sombra ou neblina
Que cobre a quina
Do cobre nobre
Da lamparina do poste
Que perfura a fumaça
De quem fuma conhaque
E flamba a sorte
Ou seria a morte
Somente da sua agonia
Já que no desgosto de mundo
Nem todo mundo caminha
Esqueceram de contar
Que nessa neblina nada acontece
Você só tem a julgar

segunda-feira, agosto 10, 2009

Cúmplice da Conivência

Estopa rindo uma estória
Estufa a estofada ópera
Engomada engenhoca
No efeito efêmero do eco
Desse treco
Efetivo feto
Batizado amigo
Adotado
Parido
Pela cor do trigo
Metal antigo
Fortuna de rico
Furto do tempo
Valioso em pensamento
Prezado querido
Pelo que lhe resta
Dos momentos falidos
Diante dos passos
Do cabo-de-guerra
Da página que se espera
Enquanto lê-se
E termina o livro

segunda-feira, agosto 03, 2009

menos dois

Nua pelo que te veste
Fratura exposta
Carne crua
Quando me despe
Ao cobrir a tua

Imploro quanto custa
Quando cura
Essa proposta imatura
De me deixar sem lar
Nessa rua escura

domingo, agosto 02, 2009

Ritual Secular

As palavras são as mesmas
Centelha para qualquer letra
A fagulhar pelo palheiro
Na chama acesa sem herdeiro

As histórias são parecidas
Gêmeas sem mãe parida
Ninadas pela insônia ferida
Pelo aborto do que se evita

As vitórias são mentiras
Próprias de derrotas esquecidas
Sorridas pelo tempo oposto
Estampadas, escondidas pelo rosto

As pessoas são loucas
Idênticas solitárias de roupa
Etiquetadas em embalagens moucas
Heroínas pretensas a serem outras

O tempo é apenas presente
Cronometrado pelos ausentes
Do foco matinal solene
Que aquece e apodrece a gente

sábado, agosto 01, 2009

Percurso

Finge grito d’água
Mas é quebra-pau de ar
Por onde estréio a trégua
É distante do meio amar
Onda à deriva da margem
Aquarelada é minha paisagem
De luar fugaz embarcado
Que traz o fado a me sondar
Atravessa-me para o outro lado
Do coração perdido no mar