quarta-feira, dezembro 09, 2009

Cegueira

Ninguém disse o que seria do futuro,
Agora presente nas loucuras de outro jeito,
Direito do sujeito dele, do meu nosso.
Tem dança de sorrisos e rosto colado,
Nos olhos fechados em beijos sem compromisso,
Selado por surpresas de esperanças já abandonadas
Que deslumbra todo o pesar,
Escrito e perdido nas linhas da mão.
Como era, se foi, e como é, está sendo
O indo do haver que irá fora de cartas e predições.
O brilho está no olhar de cada estrela
Que cintila cada destino a que caminhamos
De mãos dadas, entrelaçadas pelo que a paixão cativou,
No passado presente em dúvida e do futuro que já o sou.
Até que uma estrela morra, não percamos nossa direção.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Ventilador de andorinhas pro calor do verão

Ventilação pra cá
Ventila ação pra lá
Vento no lar
Ventilador de ar
Ventila dor pro mar
Vento só da andorinha faz voar

‘Mas vale um pássaro na mão do que dois voando’
Mas ‘uma andorinha não faz verão’

terça-feira, dezembro 01, 2009

O grito da cigarra

Verão o canto dessa cigarra
Entoado à seiva dos dias quentes
Fora da terra onde plantei minha árvore
Assistirão à ópera da gente
Nos timbres marcados no caule
Farão de larvas borboletas

Olho de Vidro

Esse vidro está querendo se quebrar
Se esgueirando pela beira
Ansiando por seu fado
Pintado pelo espatifar
Por seu precipício calado
No princípio de que nada há de durar

Diamante é refutação do tempo
Não conhece a gravidade
Que incide sobre os desatentos
A todo tempo derrubando seus quilates

Qualquer carbono se arruína ao palpite
E na dúvida do seu destino,
Qual som morderá o silêncio de possibilidades?
O do vidro a se quebrar?
O do vidro a nos cortar?
Ou o do vidro em outro lugar?

segunda-feira, novembro 16, 2009

Arco de Íris

Imagina se chuva tivesse cor
Sabor de fruta
Cheiro de flor
Imagina se a poça tivesse lar
Em vez de adotada
Fosse qualquer lugar
Imagina se relâmpagos fossem de artifício
Um fogo feito no Ano Novo
E trovões como balanço de sinos

Corrente da tristeza

Quando a chuva vem
Barranco parece rio
Vai levando tudo embora
Enquanto a gente tenta
Cavando buraco
Que não se aguenta
Com as mãos no barro
A gente perde tudo
Coração fica apertado
Ao pensar no futuro

segunda-feira, novembro 09, 2009

Jejuno

Engoli a inveja que você me doeu
Embebida em soluços de fúria
Violentei o estômago do peito
A decompor meu sorriso ao meio

Num amarelo podre entre dentes
Falsifiquei um desprezo eloquente
Entrementes cravando minhas mordidas
Como a que ele me deu enquanto distraída

Pois é, fui mordida
Abocanhada
Dilacerada
Ferida

Com um chá de reflexão acabei com a indigestão.

terça-feira, novembro 03, 2009

anteposto figurado

Gosto de ser a insônia de altas horas da madrugada
Gosto de ser a fera das noites enluaradas
Assombração das suas noites em claro
Mios de gatos perdidos pelos telhados
Gosto de te cortar na brisa fina
Ser o vulto nas sombras
E a sombra da neblina
Gosto de ventar suas folhas
Inventar fomes e secar pimenteiras
Gosto de te puxar pelas madeixas
Gosto de velar seu sono
Interromper seus sonhos
Com seu pé esquerdo a cair da cama
É meu nome que chama
Gosto de queimar sua voz
Gosto de tombar nós e nós.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Camafeu Carmim

A água doce gosta de me banhar
Sou leal ao meu tato
Não condeno, não maltrato
O que é feito de sal

Sou de sublimar espuma do mar
Pois nasci fora de lá
No grão de areia de Saquarema
Passo a ser o canto da sereia

Num brado alto rompo o forte
Da psique da Psiquê de Freud
Que o Vento Levou
Para além das Pontes de Madison

Meu pensamento é alado
No meu corpo carrego os pássaros
Pelo ar das crianças
Em seus primeiros passos

Minha ordem é calada
Se sambo é no gênio forte
Pois sou feito raiz de gengibre
Marfim de fera nobre

No balanço do amor que amo
Choro também na música que danço
Pois inflamo como flor em botão
Mas desabrocho com rock no coração

Rancor não me deixa nó
Os que pecam sabem de cor
Se o tempo fecha, desço do morro
Pois não há salto que seja estorvo

Quando o sol raia num jasmim
Coquetel de frutas de tom carmim
Sou o batom vermelho das rosas
Do céu azul que me faz jus em prosa.

quinta-feira, outubro 08, 2009

Cor leonis

Senhora, e agora como lhe chamo
Se é dona do amor que tanto
Canto encanto como danço
Nessa brincadeira de adivinhar

Se a respeito no tratamento
Como posso dar um jeito
De equilibrar o que me acha
Ao cotidiano que é meu pesar

Pois é você pra cima e você pra baixo
Trocando vocativos, perdendo o lastro
De subestimados rótulos etiquetados
Eu, agora e a senhora acolá

Perdão pela empolgação
Meu pecado é sem ultrajes
Pois quando leio das suas letras
A empatia a torna meu lar.

domingo, outubro 04, 2009

Colcha de Retalhos

Há muita linha a ponto de agulha
Pra pouco pano pra manga
Na colcha que me aquece, esquece que
São poucas as balas pra estampa

Ofereço minhas cores primárias
Por seus caminhos e fechadas tramas
A rendar o que ando tecendo
Pelo que lhe resta de escamas

Dobras sobram no embrulho
Que me faltam nos retalhos
De tear prematuro
Que cego me finta descaso

segunda-feira, setembro 28, 2009

dó-elo

Fortuna falida pelo nu brado
Hasteante da claridosa cidade
Abatida por garras assombradas
De noite transparente às escuras
Das ruas de pernas cruzadas
Encruzilhadas oferecidas ao fenecer
Da brisa fina colecionadora do tempo
Que tece o limite da derivada fachada
Da aurora que rasga seda na sede
Que o breu ceda e rompa-se em reflexos

domingo, setembro 13, 2009

Esperança Eslava

Uma amizade sem linha cruzada
Paralela ao que me fantasia
Pela dignidade de cada poesia
Gratificante e intimidante
Ser a peça de um espectador
Que segue o ritmo mais que íntimo
Da quase telepatia empática
De nos adivinharmos esbarrando-nos
Num desvio estreito curioso
A tirar finos pela conjectura pretensiosa
Preciosa ansiosa de contato

O tempo corre mais rápido
Do que posso acelerar
Então dobre no retorno
Volátil a cortina se fechar
Esperar perde ação com definidos
Mudar pede reação de indecisos
Afinal paralelas só se cruzam no infinito
E não devo me demorar

quarta-feira, setembro 09, 2009

Cardápio

Cansei de humores
De gente que não se sustenta
Em cada palavra que diz

Cansei de gênio sem lâmpada
Que se esfrega e não se manca
Em três pedidos que fiz

Cansei de caráter
Esculpido em caracteres
De estampas fingidas de fé

Cansei de humanidade
Cansei de maternidade
Cansei de caridade

Por favor, traga-me maturidade!

terça-feira, setembro 01, 2009

Corte

Treme o peito
Sem efeito a adoçar
O café amargo enferrujado
Que furou a pistola
Que atravessa os miolos
A sabotar a roleta russa
Pelo sangue do pulso
Lambendo a navalha

Deus que te valha!
Pelo que rico
Teme teu peito

Agora

Confraterniza a loucura
Sentada à mesa do impulso
Servidos pelo tempo da interjeição
Saboreada como sobremesa
Embrulhada pra presente
No arrependimento da capacidade
Da borda do copo de cristal
No vinho azedo pela ferrugem
Dos diamantes de cada eu te amo
Agonizantes porvindouros
Das promessas sem janela
Como o esboço da pintura colorida
Sem tinta para a tela
Fortaleza em moldura sólida
Que pode não combinar
Com o dengo do instante
Um eu te amo hesitante

quinta-feira, agosto 27, 2009

Juízo de Valor

É sombra ou neblina
Que cobre a quina
Do cobre nobre
Da lamparina do poste
Que perfura a fumaça
De quem fuma conhaque
E flamba a sorte
Ou seria a morte
Somente da sua agonia
Já que no desgosto de mundo
Nem todo mundo caminha
Esqueceram de contar
Que nessa neblina nada acontece
Você só tem a julgar

segunda-feira, agosto 10, 2009

Cúmplice da Conivência

Estopa rindo uma estória
Estufa a estofada ópera
Engomada engenhoca
No efeito efêmero do eco
Desse treco
Efetivo feto
Batizado amigo
Adotado
Parido
Pela cor do trigo
Metal antigo
Fortuna de rico
Furto do tempo
Valioso em pensamento
Prezado querido
Pelo que lhe resta
Dos momentos falidos
Diante dos passos
Do cabo-de-guerra
Da página que se espera
Enquanto lê-se
E termina o livro

segunda-feira, agosto 03, 2009

menos dois

Nua pelo que te veste
Fratura exposta
Carne crua
Quando me despe
Ao cobrir a tua

Imploro quanto custa
Quando cura
Essa proposta imatura
De me deixar sem lar
Nessa rua escura

domingo, agosto 02, 2009

Ritual Secular

As palavras são as mesmas
Centelha para qualquer letra
A fagulhar pelo palheiro
Na chama acesa sem herdeiro

As histórias são parecidas
Gêmeas sem mãe parida
Ninadas pela insônia ferida
Pelo aborto do que se evita

As vitórias são mentiras
Próprias de derrotas esquecidas
Sorridas pelo tempo oposto
Estampadas, escondidas pelo rosto

As pessoas são loucas
Idênticas solitárias de roupa
Etiquetadas em embalagens moucas
Heroínas pretensas a serem outras

O tempo é apenas presente
Cronometrado pelos ausentes
Do foco matinal solene
Que aquece e apodrece a gente

sábado, agosto 01, 2009

Percurso

Finge grito d’água
Mas é quebra-pau de ar
Por onde estréio a trégua
É distante do meio amar
Onda à deriva da margem
Aquarelada é minha paisagem
De luar fugaz embarcado
Que traz o fado a me sondar
Atravessa-me para o outro lado
Do coração perdido no mar

domingo, julho 26, 2009

diálogo

Vem, conta uma verdade
Uma novidade inspirante
Às minhas mentiras aspirantes
Que concorrem com a coragem
Já distante por deitar e rolar

Vou inventar uma boa
Uma que não doa
Quando for te contar
Uma piada suada fria
Um tanto sofrida
Portanto há de me perdoar

Bem, quero uma pra dormir
Uma que me faça sorrir
Antes de eu começar a te mentir
Um conto de fadas mais real que um cafuné
Um sonho de mulher
Algo mais pra ter mais fé
Do que um espinho no pé

Pode deixar, minha querida,
Pois é flor mais bonita que a margarida
Mais fácil de engolir que aspirina
Mais doce que estricnina
Mais estimulante que cafeína
Mais sonora que uma rima
Mais profunda que uma piscina
Mais fácil de enrolar do que um rolo de fita

Sinais

Os sinos valsam sobre seus reflexos
Em espirais de móbile
Antes que digam os conservadores
Que deviam é sapatear

Antes que queiram adicionar conservantes
E digam os conservadores que deviam é sapatear,
É sobre seus reflexos espiralados
Que valsam os sinos do móbile por acaso
Pelo acidente urgente de se espelhar

Que espirais são esses que retornam
E tornam-se escudos a seus eixos
Contra ventos prematuros e amenos
Que não se violentam
Para que finalmente nos sapateiem

Fissura

É beijo roubado
De um espelho quebrado
Em sete anos de azar
Cadeado, um terço, pecado
Por onde vaza a água
Do copo rachado

Mancha no vidro da mesa
É o rasgado da seda
Da porcelana, o risco
Do recado visto de lado
Por disfarçados escritos
Denunciados pelo descaso

Um plural errado
De um mais um
Duplicado: Quatro
Do amante
Do passado
De nós dois alagados

o ombro

Meu ombro deitou-se em rostos
Enfronhados de desgostos
Vestiu-se de afagos
E sorrisos aos punhados

Meu ombro foi um a tantos
De suores a outros prantos
Cobiça, distância por encantos
Esquecimentos pelos cantos

Meu ombro sobreviveu a berros
Foi amigo, foi severo
Abraçou pretextos tolos
E lutou a dar me louros

Meu ombro segue seco
Pelo seu outro que não é de espelho

Procure seu ombro de preço
Seu leito de aconchego

terça-feira, julho 21, 2009

Alvorada Metálica

[A luz se acendeu
A luz se apagou
Da lua queimada
O sol não raiou]

Lua prenha em brisa plena
Sangrada por raios fartos
Do arcabouço de seus favos
Amarelos sinuosos de receios
De colméia com servos sem sujeito

No cabelo de serpentes cegas
Pela esfera da pequena auréola
Que se espera no corpo descendente
Da maçã presa à espada-de-são-jorge
Numa vitória-régia ascendente

No tijuco profundo da ruína da estrofe
Marcada pelo rubi dos lábios
Na gola emoldurante do alegórico
Enxofre que borra pelos olhos pintados
Negros de fato.

sexta-feira, julho 10, 2009

pra se molhar

Era o tempo que permitia
A anistia de se navegar
Jogar bóia à vida
Para a proa não naufragar

A garoa de uma preamar

Era o tempo que invadia
Com delírios a marear
Seus temperos tempestivos
Querendo dela o afogar

segunda-feira, julho 06, 2009

Labirinto

Não se esconda nas minhas palavras
Pois sou madrugada ainda acordada
Cantada feita na hora errada.
Quem é bonito, quem é feio?
No fim todos sentem no peito,
No meio, no recheio, sozinho como é
Como quer ter ódio do futuro
Tão profundo, tão escuro a ir pro fundo
Do raso do medo de se afogar
Ou se molhar pelos versos de quem ama
É sede, é maltratar
È morrer de vontade
Que quero mesmo sendo tarde
Acabar na utopia de amanhecer-me
Na confiança encolhida,
Não da escolhida à presença do que se adianta,
Mas do que se encanta pela vida
Entretida a completar meus vazios
Que já estão cheios do seu cheiro.

terça-feira, junho 16, 2009

Demo-lição

Você desintegrou laços,
Calçou os sapatos,
Deteve meus passos.

Fez buracos no telhado,
Deixou-me descalço,
Pisando nos cacos
Dos seus rascunhos amassados.

Como passo o descompasso?

No meu relógio, o atraso,
Só descrença e descaso,
Do meu falso fracasso.

E eu ainda me faço,
Finjo-me de falso,
Mantendo-te no alto
Bem acima do salto.

A grega

Aqui estão os dias seguintes
O que me finge
Mas não me cinge
Como Exfinge!

recorta e cola

Comemora
Como recorda
Quanto me adora
O que me aflora

Às sete horas
Depois da aurora
Da que fui às forras
Nas farras de agora

Estou fora!
Vê se colabora
E sai da minha cola
Sem mais uma de suas esmolas.

segunda-feira, junho 15, 2009

Pela janela

É este meu veneno de inverno
Que venero
Enquanto faço-te pequeno
Pra sobrar mais cobertor

É nesse sonho que te espero
E tempero
As bochechas de calor

Você vai embora
E o que me assombra agora
É a sobra do que não sobrou

Ficou a farfalha, a migalha
A falha
Da parede sem nada
Porque a porta desbotou

Raia

As nuvens bóiam em cor de aposta
Do arco
da lona
do circo
Na mão do palhaço
na cidade
Perdida e estufada em tamanho fascínio
Pela caridade do desmanchar do dia
Num estalo ardente afável
Inflamável
à claridade da alegoria
De afogadas estrelas famintas
Que vão de apelo ao ralo
levando sua tinta
Navegam apenas
as pinceladas com aspereza
de estados raros
Que depois do primeiro raio
Alucinadas
permanecem ilesas
Planetas
aquecidos no esquecimento
Obstante
do exorbitante aglutinador
De orbitas distantes
de sua rotina
Viajantes
da Via Láctea
órfãos de lactante
Pela qual cruza arte ferina
Diferir o frio febril
E o feitiço do feltro negro
Com brilho do fio fino de cabelo
Que nasce
no meio da cabeça
Que a mãe natureza
pariu
E segue firme
e segura até o fim
de cada horizonte
De leste a oeste
Todos os que não têm vestes
Para mergulhar na tristeza
as amarguras
Sutis de uma nuvem negra
Que faz cantiga na hora de dormir
antes do fim da tarde se perder
É difícil, edifício!

segunda-feira, junho 08, 2009

No morro

Vento, leva meus beijos!
Perca minhas pobres preces
Perdidas em pecados com fé
Carrega da lembrança minha
O cheiro do amor que me é
Feito um perfume de malmequer

Vento, traga-me brisas!
Refresca a sede que me afoga
Encantos que medita a senhora
Mergulha a vôo alto essa crista
Numa reverência indecisa
Racionada por várias trilhas

Vento, livre-se do seu lugar!
Inflama o que alimenta cada pintura
Pois por ventura sou o seu lar
Tricota cada esquina como labirinto
No meu sonho de infinito
De uma hora chegar lá.

quinta-feira, maio 28, 2009

Foragidos do Previsível

Treme a maioria com a teimosia do temor
Do veneno pequeno em que padece o amor
Contra a euforia que sente a gente
E entrementes nos passeia pra onde for
É pé esquerdo que o direito carrega
Que atropela sem demora
O que antes azedou
No calor da enchente feito serpente
O antídoto escapa de forma escassa
Por entre os dentes por onde crava
Uma ilha que peçonha alforria
Em quem se desaba como deságua
E por pouco não se afogou
Amofina a dor dos presos
Dos detentos de corredor
Dos sem-janela, dos sem-espera
De lua cheia e amarela
Já vendida ao trovador
Que a enamora por ser bela
E enquanto ela olha
Ele olha para ela.

segunda-feira, maio 04, 2009

Favas Contadas

Como se dobra a esquina
Da estrada que o homem caminha
Feito linha de pipa

Como se cobra de uma porta
Entortar-se à cota
De um futuro sem memória

Como se cala um abajur
Ao silêncio do escuro
Se há medo de sussurros

Como se agarra nuvens em garrafas?

quarta-feira, abril 29, 2009

presa d'águia

E vem a brisa acordar-me pelo pé descoberto
Por esse inverno que transpiro você
Transbordante no meu precipício de pensamento
Que deságua em cachoeira pela qual o sentido se esvai
Do princípio que me cobre o véu da noite
Que acoberta dor enquanto deito
Absorta como o próprio céu estrelado
No deleite da flor a desabrochar na pele
Arrepiada de sussurros ao frio dos seus lábios
Que tocam minha solidão sortuda
Viúva de gratidão enquanto o sonho derrama
Em sua canção sofrida no sopro do aconchego
Que conforto minhas dívidas acomodadas em seus braços
Que não me cabem por julgamento
Feito juramento em abraços de promessa armada de orações transitivas
Sem intenções em mim
Diretas como próteses erguidas às mãos que te santificam
Sem extensões a mim
Esticam-se como esmola escolada com o afago
Digno do quem você enterrou
Porquanto sua aurora ainda está porvir
E germinar na sua garganta não será pecado meu
Mesmo assim meu peito clareia das trevas com um raio
Arrancado do sol do seu sorriso num ensejo seu
Interdependente da necessidade do meu
Enquanto rarefaço dias nublados a estreitos momentos
Em giros de rotação pregada à Terra
Corando ao seu redor e queimando por dentro
Pelas mesmas mãos frias que estendidas a te esperar
Anseiam para que o tempo não se transforme
Gota a gota no desespero espalmado
Sempre gelado de qualquer tormenta
Vai que me esqueço de que sei nadar
E me afogo por não ser a costela que te falta
Ouso a sentir a falha no que cometo
Ser mais uma presa dos seus desejos.

segunda-feira, abril 13, 2009

Este é o poema que eu fiz pra você

E se for invisível
Uma pedra antes do embora
De uma conclusão precipitada
Beirando o precipício
Num princípio de loucura
De palavras que valem
Tão mais que uma imagem
Que sem poder viram
O querer tardio do
Luar aquele que testemunha
As histórias que você
Anda contando que
Estão fora das cartas
De romance
E do tarô do vidente que
Perdurou pelo amor
Como uma centelha
Do telhado que de vidro
Era e se quebrou
E se trocou por esse
Encaixe cheio de detalhes
Imensos em contrastes
Equilibrados diante do rastro
De rosas aceitas
De rosas desfeitas
Que não me permito hoje
Pois as forjei ontem
Conforme esse trem apitava
Enquanto não levava mais ninguém
Senão a liberdade que agora vai
E a saudade que de repente vem
A outrem sem maiores poréns.

domingo, março 01, 2009

Paixão

Pode deitar ali, essa noite é dela
Amanhã é da outra
E depois? Ainda não decidi.
Amor ameno alento a menos
Desperdicei-me em prazeres
No sentir de serpente
O venenoso de repente

E você brinca,você brinda
Se esforça e faz dela forca
Que me enforca
A ser a espera da sua demora
Do fogo faz-me sua estopa
Da vergonha que não tem roupa
Dessa fugitiva esconde a proa
Agora assopra para que não doa
Me atordoa enquanto cora
Decidindo no cara e coroa
Ir embora sem demora
Pela janela, bate a porta
E sem dar um adeus
Assopra a vela lá de fora

Pra um episódio estar fechado
Ele precisa, necessariamente,
Ter sido aberto um dia
Mas o fechado vem antes do abrir
Vamos dividir, pois não me esqueci
Apenas não lembrei que existiram

Enquanto isso sorrisos teus acharei forçados
Pois vou de encontro à dor
Que você perdeu por aí
Não dá porque não deu
Dizemos que passou
Pra tudo que se perdeu
Tudo que eu achei outro dia desses
E quis perder de novo do meu eu
De um momento seu

Quem

[vê cara]


Quem se olha muito no espelho
Não vê que os outros também têm reflexo
Só admira a rosa vermelha
E da branca não sente o cheiro
Quem vê é cego pra quem
Enxerga, não ouve
Não sente, mas julga
Centenas de cabeças às suas sentenças
Quem pára pra pensar
Não namora correr riscos
Habita o perigo maior de ser pensado
Como de quem sonha demais
E deslembra do pesadelo da fome
Dos anseios de um só nome
Medo
Abrir a porta custa caro
Se a deixa trancada quando vão embora
Desapareceram apagando a luz
E era uma vez um esquecimento
No sono da claridade acesa
A você, que ficou acordado
Aquém de quem anda descalço
Acompanhando o caminho
Na companhia de seus calcanhares
Diante do mundo todo
Superlotado da fé em alguma coisa
Conformados na esperança de se consolar
Pois quem cala, sente
Cortar-se com os gritos presos
Em uma fuga em massa
Do urro que fere
A paz do sonífero silêncio
Que flutua e vai com o vento
Num vôo mais alto do que pode
Em queda-livre a um mergulho fundo
Tolhido da luz do sol
De abraço às trevas de quem sofre
Com o dó próprio a culpar terceiros
A sentir o lábio formigar
Na expectativa de que a lágrima corra
Como quem chora em demora
Do lembrar, do quê em ti mora
Forçado a compartilhar seu egoísmo
Aguardando aplausos de altruísmos
Alheios de quem foi ignorado
Implorando maior atenção
Quando este já não o está
Suicida-se com a solidão
À espera do céu em que apodrece
No inferno da terra temperado
Com cores de flores vestidas do preto
Que não tem mais vida
Só o amargo.


[não vê coroa]


Quem abre a porta
Não se importa se a deixa
Trancada quando se vai embora

Quem apaga a luz
Cai no esquecimento do sono
Ao deixá-la acesa
Pra quem fica acordado

Quem mergulha fundo
Abraça as trevas do dó próprio
De não ver a luz do sol

Quem se olha muito no espelho
Não vê que os outros também têm reflexos

Quem anda descalço
Caminha acompanhado
Da solidão a seus pés
Diante do mundo todo

Quem sonha demais
Deslembra do pesadelo da fome
Dos desejos de um só nome

Quem vive de brigas
Só tem a compartilhar seu egoísmo
Esperando altruísmos alheios

Quem tem fé em alguma coisa
Se conforma com a esperança de se consolar

Quem morre a espera do céu
E apodrece no inferno da terra
Temperado com cores de flores
Vestidas do preto que não há mais vida

Quem chora em demora
Lembra do quê em ti mora

Quem voa mais alto do que pode
Cai em queda-livre

Quem vê a cor da rosa vermelha
Não sente o perfume da branca

Quem pára pra pensar
Não gosta de correr riscos
O perigo maior é viver pensando

Quem sente o lábio formigar
Espera que a lágrima corra

Quem se cala
Corta-se com os gritos presos
Em uma fuga em massa

Quem grita
Assusta a paz do sonífero silêncio
Que flutua e vai com o vento

Quem vê
Não enxerga, não ouve
Não sente
Mas julga, centenas de sentenças

Quem ignora
Espera atenção maior do que o ignorado
Quando este já não o está

Quem sofre, sente pena de si mesmo
E culpa terceiros

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Oferendas

Aqui são servidas as meiguices
Bem-vindas
A forrar cobiçosos estômagos
Pelo apelo
Nutridas
Requisições são caras
Famintas
A barganhar um furto
Que seja um beijo,
O fruto
A aposta da última fatia
Rejeição
Tem arremate
O descaso
Se como rei fosse o tratado
Cerrados olhos a protestar
O júbilo
Gravado em retrato de pedra
De camafeu recortado
Perdões
Gastos para esbarras
Feito apologias a vontades
Usando desejos mascarados
Entremeados de malícias
E pecados

Os eles delas

Ele só pode ser este
Ele pode ser esse
Ele pode ser aquele, talvez
Mas ele é dele
Ele está longe de ser deste
O que ele é desse ele
Como ele é daquele ele
Mas ainda assim, ele é dele
Ele só pensa nele
Ele não é desta, nem dessa
Muito menos daquela
E ela ainda cai nesta daquele
Nessa deste
Naquela desse
Ela não vive sem ele
Nela, ele sai dele

sábado, fevereiro 07, 2009

Meninice

E agora, minha menina,
Qual o tom das tuas nuvens pro meu céu
Se quando me ofereces a luz da tua cor
Teus disfarces de camaleão são desnudos
Como insulto ao reflexo do que me é sorrido

Me nina, minha menina,
Não reconheço do teu choro o que goteja
Do respingo da tua bateria acuada
Ao canto do teu peito que não ouço
Quando desse colo em que me embala

Me mima, minha menina,
No compasso de teus períodos férteis
Enfraqueço a pausas de fidalgas estações
São estéreis minhas palavras de culto a ti
Que do meu escudo não faz rimar com solidão.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

O enfadado dia deles

É narrada a estória:
De vitória, às maculadas almas,
A derrota!
De incesto espiritual
No amor primo, o que coube
Que ainda ao sempre cabe?
Um equívoco,
Como nunca nos deixar,
Se não vos deixamos.
Nos destroços varridos,
Pelas peças do duelo,
Belicosa detrás da porta:
A solidão.
De um ódio,
De um remorso próprio,
De um póstumo suporte,
Que se desfaz apenas
Por uma condição;
Uma contradição:
Matar...
Não os mataremos,
Pois lembranças só irão
Emancipar-vos
Mártires!
Porém, a auréola há de ser nossa
Até o dia que nos deixarmos
E odiarmo-nos tanto
Quanto a quem nos deixou.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Abre as asas sobre nós

Antes do amanhecer
Puta é quem comeu
Da fruta
E não era dessa, Eva
Santa e pura
Façamos uma tempestade
Numa colher d’água
A molhar a palha
De uma boneca sem face
Pois se o queixo não bate
Sua pele não se arrepia
Escuta mais não fala
Porque da pele não tem ouvido
O pranto não era o seu
Do mesmo rosto que sorria
Nas mãos em que cabe
Pedindo alforria

mala sem alça

É chegado o dia,
As roupas ficaram velhas
Como nossa emoção,
À noite as flores não têm mais
O mesmo cheiro da alvorada.
E o que era a amizade
Diante desse lamurio perdido
Entre um adeus e outro,
Em que até mesmo a chuva
Faz voltar ao paraíso,
Gota a gota que se tromba
Junto à gravidade dos pequenos
Pecados terrenos dos quais pisamos?