sábado, agosto 30, 2008

Sopitável

Ele passa horas refletindo
Aventurando-se a lembrar do passado,
Buscando padecer pelo presente

Não se repetir como uma rotina.
Esquece-se!
Só resta o gosto amargo de notar.

Permanece num branco arrastado,
Tentando colorir em manchas.
E o tempo passando...

Uma ocasião vem e escapa
Antes de ser registrada,
Só lhe resta o gracejo de uma fotografia

Do que não existe mais.
Daquela vida, outra se deu início.
E só teve a recordação de uma gestação

Em que ele mesmo se abortou.
Enlouquecido disputa sua atenção
Entre o sim e o não,

E se pondera a crer
Naquela percepção de que nada está no lugar de antes
E por isso parece ser impossível repetir a direção

Da resposta que anseia,
Ou apenas fica dando voltas e mais voltas
Em seu raciocínio para dizer-se

Intenso sabedor de si
Porém, não sabe onde finda,
Até imagina

E está alucinado para apaziguar seus ânimos
Da sua tortura observada numa lógica
Que ninguém entende,

Porque não deseja
Ou não sabe expor.
Uma toalha verde nunca lhe foi tão bela

A ponto de o fazer lacrimejar,
Mas dessa vez suficiente
Tão perfeita quanto tudo ao seu redor.

A beleza não está na aparência,
Está na linguagem de todos os seus sentidos.
Imagina como é crível

Tamanha grandiosidade,
E acredita isso sim ser Deus.
O seu Deus se maravilha com ínfimas coisas

E se emociona até em ver a sola de um tênis virado
Para cima no meio do quarto,
E sorri,

E chora,
Escreve e lê,
E entende o que está sendo feito

Sorri pra si mesmo,
Mais uma vez.
É amor.

sábado, agosto 16, 2008

De lua diurna

À primeira vista
Não, das duas
Não, das suas
Rimas leoninas
Filhas duma
PLUMA
Numa
Anfetamina
Brindam
Garras felinas
Em carne crua
Minha sina.

quinta-feira, agosto 14, 2008

Para amar eu

Quando
Ouvirdes a trova nas cantigas de outrora
E olhardes o afresco oco de retratos de reis postos
Sentirdes o primaveril perfume a irromper auroras

Sede vós a conjugar-me imperativo de demasiados subjuntivos
Sê tu para amar eu.

quarta-feira, agosto 06, 2008

Hífen

Entre sem bater
Pela mesma porta
Por onde o outro se porta
E ele não se importa
Pela mesma porta que se entreabre
E não deixa que nada sobre.
Na mesma do sujeito
Que se perde de sua vaidade
Ao ser visto sem se ver,
Vitimando a protelada intimidade.
Nela, por que muito se adentra
E o pouco do pouco se esvai,
Que guarda estimados arcanos
E somente de seus agrados.
Dentro se comprime ao absurdo
Da surdez daquele engano
De quantas colheres em uma apenas
A adoçar sem amargar o melado.
O análogo confina o livre-arbítrio
Do mesmo anônimo que a porta tranca
Da incerteza de suas interjeições
Das quais sílabas se separam.