quarta-feira, outubro 29, 2008

conivente

Meu companheiro me entende.
Tem fogo e não quer sexo,
Acompanha-me no riso,
No choro, não me questiona.
Com palavras me encaminha
Dia após dia, à morte minha.

Implícita

O bom de não ser explícita é que sempre existe dúvida,
o ruim de não ser explícita é, justamente, a dúvida.

segunda-feira, outubro 27, 2008

Capital

Inicia-se ato do caos à carne.
Pudico canibalismo, diante da face,
Despi-se de façanhas morais,
Anormais animais!
Sobrevivendo a sais, umidades,
Como voraz fatalidade.

Seguram ruídos de tais ouvidos.
Felizmente, gemidos!
De controles falidos,
De carinhos bem-vindos.

Em mãos, relevos revelam
Tubos de ensaio que águam.
Imagem, em tato, percorre
Por experiências, escorre.

Rubro rosto!
Deriva suposto gosto
Em falo posto
E reposto e reposto...

Morre nova a alma, noutra
Despedaçada carcaça louca.
Veneno a mordidas da fruta.
Paraíso casto pariu te expulsa!
Se liberta foi a flama,
Abrigo, agora, é jazer em cama.

quinta-feira, outubro 23, 2008

marca vitrine

O sapato mais bonito eu comprei.
Cabelo de vermelho, eu pintei.
A cor dos meus olhos,
Também mudei.

Da saia, a mais curta.
O salto, o mais alto.
Curtos passos!
E meus admiráveis peitos
Em tamanho decote,
Feito convite a filhotes.


De repente ela chegou.


Eu só queria ser ela!
Na saia mais feia.
Eu só queria comprar ela!
O cabelo mais curto que o meu,
Secos como cor de palha.
E eu só queria ser ela...
Pois era mais bela do que sei.

Quase a perguntei onde segurança comprava eu,
Quase a perguntei como a usar brio meu,
Já que ela era eu.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Leréia diária

Ao cerrar as cortinas de seus olhos,
Tolheu o fulgor solar de alegrar-lhe.
Garoou em pranto toda sua lamúria
Por seu cerúleo coração plúmbeo.

domingo, outubro 19, 2008

Lídimo Idílio

Bem-te-vi em sonhos na reticente cantoria,
Na ceifa minha, minha auto-antropofagia:
Assobiava notas de escusas repetidas.

quarta-feira, outubro 15, 2008

rabo-de-olho

No semblante face a face
Silhueta aqueles cílios
Desde deste indeciso
Enquanto frívolos risos

Tanto encanto como friso!

Alcança réstia a noite instante
Como sonho meliante.

Que me encantes!

Seqüestra prelúdio que me resta
Dessa orquestra em seresta
Sem coro de bacantes,
Bacamartes dançantes

Pousa o pomo, pierrô
Em peito meu padece-dor
Fora joga viúva flor
Distante de cor e vigor.

terça-feira, outubro 14, 2008

Infidelidade

Esmola em bula relicário
Eira crisântemo na farda
Para cego é tato
Paladar bissexto fechado
Infante retardo de chuva que arde
Como lembrança pobre de alarde
O gosto de você,
O gosto de árvores,
Piedade!
Enumero ação aberta sem porquês
Por onde esvai-se introspecção
Que a você cabe.

A cobra coral que turquesa no céu
Peçonha em pensamentos meus
A teu gosto
A meu posto
Suposta carência que sobrepuja
Essa angústia queimadura.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Qui pro quo.

No vazio a preencher não lhe cabe conter
Você à mercê de cada alvorecer
No porão pretensão cabe
Tarde: epitáfio de lápide
Imêmores do já, tumultos
Enterram túmulo donde jaz
Vultos extintos deste jamais
Dó, Ré e Lá afundam neste cais
E Mi Fá Sol, Si cá amais.

terça-feira, outubro 07, 2008

Melindrosa Nebulosa

Viu-se no sol azul e mareou
Não era céu o seu de ondanças areentas
Diana envenenou-se por escorpião
Como cio virginal de uma preamar
Cintilou seu Órion em crepúsculos
Afogando-o em esquivas auroras
Choramingando caçadora outrora.

domingo, outubro 05, 2008

Antologia

Poema, garoto!
Sem samba, sem choro
Tapume me pune incerta medida
Neuro-neutra desobedecida
In vitro insisto na carapuça que visto

Caminho carinho em invenções de menino
Vendendo pautados anseios sem sal
Porque mesmo alado, almada
Nutro alaúde em jogral virtual.

sábado, outubro 04, 2008

Reticências

Conto de fadas, um jardim de flores eternas
Que não careçam ser regadas
E não morram botões
Em pétalas insubordinadas;
Só desabrochem beleza
Sublime de eternidade
Num antônimo à escuridão
Que preenche o vazio
Cheio pela falta de quimera
Onde a cordialidade falha
E vazio é pelo excesso de razão.

Que brilhe com anseios irradiados, pose
Como veneno em doses
De sorte doce,
Como o próprio drama,
Onde cada perfume é essência d’alma,
Um vento incerto de canto e dança
De fadas imaculadas.

quarta-feira, outubro 01, 2008

Brisa

Ao alcance
Reles flor
Face a face
Seu rancor

Subestima
Leve sina
Alma boa
Sem valor

Voa, voa
Doce amor
Por essa proa
Salvador!