segunda-feira, setembro 26, 2011

Acabou o silêncio

O silêncio que flutua
Em suas neblinas
Está trancado
Dentro do calabouço
De suas rimas

Fecha o cerco
Feito o vazio
Dessa ausência indizível
Intocada pelos anos
Que você fingiu não ver

É hora de abraçar o grito
De livrar se desse vício
Que é não se ter

Por inteiro
Partido ao meio
Por dentro

Merecer por direito
O que é o ser

O dia seguinte
É apenas uma esquina
O fim da linha
Uma quina no peito
Que não tem mais atalhos
Somente buracos

E fachadas
De cortinas fechadas
A serem abertas
Ao amanhecer

Cheiro de ruído
Barulho de vidro
Orvalho ressequido
E traçado esquecido.

sábado, setembro 17, 2011

Motim

Soldados de tiros flamejantes no céu
Foguetes gigantes
Desmontados em pedaços de fel
Alguém que quebre o asfalto alto
De repórter a fazer perícia
Na ladeira sem calçada em subida
Curvada cheia de tábuas
Para fechar o portão

“São armas ou bandidos?” Eu penso.
A farda negra nega
Em dominó aguardam na passarela
Acima da linha do trem
Em cima do meu ponto esburacado
Sem ônibus passando

Alguns nem se abalam
Com a rotina de estampidos.

Maré

Hoje o tempo tem cheiro de mar
O Sol balança em ondas de folhas
Pequenas, pelo barulho que me acorda
São marolas claras e miúdas em águas abertas
Pode ser que quebrem com a força
Do vento forte que me levantar
Mas de um tempo nublado
De um mar revoltado
Farei de mil espumas o meu lar.

quinta-feira, setembro 01, 2011

Trapo

Torce mais que sai mais água
Essa roupa nova já virou pano de chão
Contaminou a pele em couro gasto
Carne crua em putrefação

Torce mais que sai mais água
A tinta já desbotou em aquarela
A palidez gotejou alvejante
Rasgou a esquerda da lapela

Torce mais que sai mais água
Muito esforço, pouca energia
A costura cedeu com a força
Rompeu a alma na bainha

Torce mais que sai mais água
São formas para alagar as mãos
É para secar o leite derramado
Limpar o charco do chão